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Arquivos da Tag: travesti

Má Educação (2004), Pedro Almodóvar

14 segunda-feira maio 2012

Posted by Bruno Kühl in - Críticas, - Drama, - Noir, Cinema Europeu

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assassinato, forjamento, gay, identidade, mistério, sexo, sexy, travesti

Pedro Almodóvar é um dos melhores diretores que o cinema já teve em sua história. Demonstrando um perfeito controle da direção, maestria em narrar histórias e acrescentando inúmeras características almodóvarianas, cada filme do diretor é uma experiência prazerosa e viva em todas as suas formas. Alguns até dizem que seus filmes são essencialmente gays, com personagens fortes e energéticos, cores exuberantes e chamativas nos ambientes e nas vestimentas, histórias maravilhosas que muitas vezes englobam uma boa parcela de polêmica, além de possuírem um ar misterioso e ao mesmo tempo bastante sensual. Mesmo que suas obras possuam um lado homossexual mais acentuado, o inegável é que seus filmes são para ambos os sexos e orientações sexuais, pois são feitos com toda a excelência que o diretor pode gerar.

Uma de suas grandes obra-primas, talvez a maior de toda sua carreira, seja o polêmico “Má educação”. Chegando aos cinemas em 2004, a obra imediatamente já havia dado o que falar com sua polêmica pelas cenas ousadas homoeróticas e citações negativas a igreja católica. Porém, o filme máximo de Almodóvar é muito mais do que isso. É uma obra de arte transportada para a tela com seu lado técnico primoroso, é um conto sobre paixão e obsessão, amor e luxúria, é uma grande homenagem ao cinema noir e ao cinema como um todo em sua forma pura, um filme que pulsa vida e esbanja excelência por natureza.

Tudo começa quando o cineasta Enrique Goded, que está tendo dificuldade em escrever seu próximo roteiro, recebe em seu escritório o ator Ignácio Rodriguez (Angel), com quem teve uma relação muito íntima e amorosa quando os dois eram apenas crianças numa escola extremamente católica. Ignácio entrega um roteiro feito por ele mesmo, intitulado “A visita”, onde são reveladas experiências e detalhes na vida de ambos, desde a infância peculiar até os fictícios encontros futuros, o que dará origem a uma trama muito bem elaborada e conduzida até a grande revelação.

A trama primeiramente pode se mostrar complexa, mas com o decorrer da obra tudo vai se encaixando de forma mágica. São três histórias acontecendo ao mesmo tempo: O travesti Zahara tentando fazer sua vingança contra o padre Manolo; os dois protagonistas quando eram crianças na escola; Ignácio e Enrique discutindo sobre o roteiro e acabarem numa relação intima novamente até as mascaras começarem a cair. Tudo é regado com um clima de mistério muito sensual, nunca sabemos o que está por vir ou a hora em que alguém se revelará outra pessoa, somente somos conduzidos numa trama de mentiras e criticas ácidas a diversos temas pelo diretor que demonstra total domínio pelo seu filmo quase autobiográfico.

Por falar em criticas, “Má educação” possui um grande conteúdo que acaba por engrandecer ainda mais a obra. Incrementando criticas à Igreja Católica, o diretor faz uma obra reflexiva a respeito dos governantes e da própria instituição em si, mostrando a situação do personagem Angel, um garoto normal que teve desvios de personalidade e caráter devido as conseqüências dos abusos sexuais pelos padres que sofria em sua infância, virando um travesti drogado e vagabundo, destacando que a verdadeira má educação está implementada nas doutrinas hipócritas da igreja católica e nas normas preconceituosas da sociedade do que a orientação sexual que um indivíduo escolhe. Além disso, é uma verdadeira análise de até que ponto a obsessão pelo amor pode chegar, com pessoas fingindo ser quem não são e cometendo assassinatos só porque querem ser desesperadamente amadas, custe o que custar.

Como quase todo diretor tem que fazer em sua trajetória fílmica, Almodóvar resolveu homenagear o cinema noir, o que fez com extrema maestria. Dando origem ao primeiro noir gay do cinema, se não um dos primeiros, as características do subgênero estão todas presentes, com um crime onipresente que mais tarde se revelará o centro do filme, muitos personagens ambíguos que de repente podem se transformar em uma pessoa completamente diferente, obsessão sexual e romântica dando um tom fatal a obra, roteiro quebra-cabeça onde há três narrativas acontecendo ao mesmo tempo, corrupção humanitária com assassinatos, abuso sexual, falsidade, traição, e um final aberto para várias interpretações subjetivas.

Na parte técnica, Almodóvar também não deixa nada a desejar. A plástica visual dos filmes do diretor está novamente maravilhosa, com cores fortes estampando e dando vida a cada ambiente do filme, a narrativa como sempre está deliciosa de se acompanhar, muito bem conduzida e sustentada por um roteiro no mínimo brilhante, sendo até interessante notar que se em “Volver” (2006) só há personagens femininos, aqui reinam os personagens masculinos e suas neuroses másculas. As atuações também são excelentes, com um elenco que caiu como uma luva em todos os personagens, principalmente Gael García Bernal que se entregou ao papel e encarnou tudo o que foi necessário como somente um ótimo ator poderia fazer, além dos outros desempenhos que também estão incríveis, com um Javier Cámara mais apagado que nos outros filmes do diretor e o ainda desconhecido Fele Martínes que já consegue demonstrar seu talento nato.

Almodóvar faz cinema puro e apaixonado para delírio de seus fãs mais fervorosos e admiração dos cinéfilos em geral, com uma obra de arte original e abundante de vida, onde o diretor refletiu parte de sua vida e daquilo que mais ama na arte de se fazer filmes, num noir homossexual que quebrou barreiras e enrijeceu ainda mais toda sua genialidade, transmitindo sensualidade, conteúdo, mistério, cores e vida. Uma jóia cinematográfica da última década, que marcou o cinema moderno por seu estilo irresistível, sua grande coragem em abordar temas tão polêmicos e por ser essencialmente autoral em toda sua maestria que só Pedro Almodóvar pode transportar para as telas de cinema.

Avaliação: 5/5

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Rocky Horror Picture Show (1975), Jim Sharman

12 sábado maio 2012

Posted by Bruno Kühl in - Críticas, - Musical, Cinema Norte-Americano

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alucinado, animação, cor, lgbt, maquiagem, musical, sátira, sexo, travesti

“Um casal de noivos fica preso no meio da estrada por causa de um problema mecânico no carro e acaba tendo que pedir ajuda aos moradores de um enorme castelo, o único sinal de vida pelas redondezas. Chegando lá, são recebidos por um estranho homem corcunda e são convidados a entrar, mas o que eles vêem quando adentram é algo inacreditável. Uma festa de alienígenas transexuais da Galáxia Transilvânia está sendo feita no local, em que o anfitrião é um cientista transexual bissexual maluco que criará um homem com o único objetivo de aliviar sua tensão sexual.”

Após ler esse pequeno resumo da obra, muitos o julgam sem mesmo o ter visto. Mas não se enganem, apesar dos absurdos do roteiro e dos exageros visuais, é um filme alucinógeno, divertido e bizarro no melhor sentido da palavra. O roteiro é muito feliz em mesclar tanta esquisitice, como travestis cantores, pessoas que viram pedra, uma leve perversão sexual, numa mistura muito bem feita e conduzida, proporcionando momentos genuinamente loucos e divertidos. A história até que segue uma ordem cronológica, é harmônica em seu desenrolar e plausível no mundo que cria.

 Os personagens são tanto originais quanto esquisitos. Riff Raff e Magenta são um casal estrambótico e até assustador, Brad e Janet são engraçadíssimos por sua ingenuidade e transtorno com a situação, Eddie consegue ser divertido mesmo com sua aparição mínima, Rocky Horror é puro e néscio, mas quem realmente rouba o filme é Dr. Frank-N-Furter, o anfitrião da festa extremamente desequilibrado, extravagante e tarado, o que fica evidente em suas atitudes, falas, roupas, maquiagem, seus inúmeros exageros que enchem a tela quando ele se faz presente.

Apesar de ser uma homenagem aos filmes de ficção científica e suspense antigos, como “Planeta proibido” (1956) e “Frankenstein” (1931), principalmente no contexto de se criar um indivíduo vivo, com uma sátira ácida aos musicais feitos até aquela época, a película consegue sua parcela de originalidade, seja por seu atrevimento ou por sua audácia em abordar temas polêmicos de forma tão divertida e despreocupada.

O grande destaque da película é sua trilha sonora, costumeiro em filmes musicais. As letras são animadas e divertidas, com muita ousadia e sensualidade em sua sincronia. Faixas como “Time Warp” e “Whatever Happened to Saturday Night?” são clássicos cantados até hoje, outras como as sensuais “Touch-a, Touch-a, Touch me” e “Science Fiction” ou a divertidíssima “Sweet Transvestite” ainda são lembradas,o que eleva o filme a um nível espetacular de músicas que de tão energéticas, se tornam inesquecíveis.

 O elenco está bizarramente divertido, Susan Sarandon e Barry Bostwick estão cômicos e bem nos papéis que representam, Tim Curry entrou fundo no espírito do personagem e criou uma das figuras mais extravagantes da década de setenta. Tudo é muito chamativo, extrapolado. A direção de Jim Sharman é eficiente e alucinada, a todo tempo os personagens estão cantando ou fazendo coisas muito bizarras, dando ao filme um ritmo agitado que poucas vezes parece esfriar. A maquiagem exagerada, os efeitos toscos e toda a histeria e falta de lógica se juntam aos diversos mais fatores para formar um espetáculo sexy de multiplicidade de orientações, um misto prazeroso de sonhos e pesadelos situados nos mais estranhos cenários e mais improváveis situações.

Seu estilo bizarro e obscuro, com personagens estranhos e momentos anti-convencionais, seu baixo custo de produção (em torno de 1,2 milhões de dólares), sua trilha sonora eufórica e provocante, seu fracasso de bilheteria na época em que foi lançado e taxado como um filme descartável, fez com que angariasse uma legião de fãs devotos (principalmente na Europa, que possui cinemas que abrem sessões especiais somente para o filme, como por exemplo em um cinema de Munique que está em cartaz desde o seu lançamento, no recorde mundial de maior tempo de permanência, sendo exibido nas sessões de meia noite), que se reúnem pra ver o filme, cantar as músicas junto aos personagens, se vestir igual eles, dançar as coreografias, interagir com a película de uma forma que só um filme enlouquecido como esse podia fazer, ganhado uma nova repercussão e críticas mais favoráveis.

Um pequeno clássico da década de 70, marcada pela enorme quantidade de filmes com temas antiéticos e tabus, o que nesse não foi diferente. Um musical inovador e desvairado com faixas imortais, que aparentemente só melhorou com o tempo. Um filme cult de primeira linha que ainda marca presença. Uma obra que há 35 anos continua pulsando enlouquecidamente em suas veias toda sua euforia lunática que está longe de morrer.

Avaliação: 4/5 

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